A Diretora Regional de Cultura do Algarve, Adriana Freire Nogueira, lamenta profundamente a morte de Manuel Baptista, no dia de hoje.
Não sendo fácil resumir a sua obra em poucas linhas, quer pela sua magnitude como pelo espanto e profunda tristeza que a notícia nos causou, em forma de homenagem, publicamos a sua biografia (da autoria de Mirian Tavares), constante no Catálogo da sua exposição, ainda patente no Centro Expositivo da Fortaleza de Sagres, «Territórios Invisíveis».
«Manuel Baptista nasceu em, Faro em 1936, o que faz dele um artista local (coisa que ele nunca foi). Trabalhou na França e na Alemanha, entre os anos 60 e 70, sem deixar, no entanto, de participar da vida artística do seu país. A arte não pode ser localizada num espaço específico, ela não é fruto apenas da origem do seu autor, mas é um compósito de experiências, de vivências e de trocas. É fruto ainda do seu tempo, das exigências que este faz ao artista ao confrontá-lo com a História, que fica para trás, mas que pode permanecer como uma referência e como um ponto de partida. A arte não vive fora do mundo, mas é parte essencial da sua própria composição e artistas como Manuel Baptista, que buscaram sempre estar adiante do seu próprio tempo, trazem, como marca, o símbolo da constante inquietação, que é uma das principais características da arte contemporânea.
Em 1956, participa, pela primeira vez, numa exposição coletiva no Círculo Cultural do Algarve, em Faro.
Em 1957, matricula-se em Arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, curso que abandona para se dedicar inteiramente à pintura.
Em 1960, é convidado para fazer a capa para os Cadernos do Meio Dia, editada em Faro, e, no mesmo ano, faz a capa para o livro de Eugénio de Melo e Castro, Entre o Som e o Sul (Edição do autor).
No ano de 1961, faz mais um conjunto de capas para obras de autores como Ramos Rosa, Gastão Cruz e Maria Teresa Horta. Edita, nos Cadernos de Poesia 61, a série de desenhos realizados para a coleção “Pedras Brancas”.
Em 1962, termina o Curso Complementar de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. No ano de 1962-63, foi-lhe concedida uma bolsa de estudo em Paris, pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Em 1968, foi bolseiro do Instituto de Alta Cultura em Ravenna, Itália.
Foi Assistente de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, entre 1964 e 1972.
Em 1971, a convite da Secção Portuguesa da AICA, participa na renovação da decoração do Café “A Brasileira”. Faz a capa da revista Fevereiro: Textos de Poesia além da capa e de ilustrações para Conversas com versos, de Maria Alberta Menéres.
Em 1972, executa a intervenção plástica sobre painéis de madeira no Banco Nacional Ultramarino, em Sacavém.
Dois anos depois – 1974 – participa na pintura coletiva comemorativa da Revolução de Abril realizada na Galeria de Arte Moderna, em Belém.
A partir de 1977, desloca-se regularmente a Lippstadt e Schmallenberg, na República Federal da Alemanha, onde trabalha e realiza tapeçarias para a Fábrica Falke (Imago).
Entre 1980-1981, assume a Direção Gráfica da Revista da Associação Portuguesa de Escritores, Loreto 13.
Em 1982, realiza uma intervenção plástica sobre painéis de madeira, na Escola Superior de Educação de Leiria.
Em 1983, a convite do autor, ilustra a obra Poesia 1961-1981, de Gastão Cruz.
Em 1988, apresenta a primeira retrospetiva de desenho e pintura (1956-1988), no Convento do Espírito Santo, Loulé.
Assume a direção das Galerias Municipais de Faro (Trem e Arco), em 1990, e realiza a segunda retrospetiva de pintura (1963-1990), na SNBA (Sociedade Nacional de Belas Artes), Lisboa.
Em 1996, faz estudos para a intervenção plástica na estação Quinta das Conchas, do Metropolitano de Lisboa e vê concretizada a sua primeira exposição antológica em 1996, na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, Almada.
Mais de 30 (trinta) exposições individuais e quase 40 quarenta exposições coletivas, o artista conquistou, entre outros, o Prémio Soquil de Artes Plásticas (1970), Prémio Arus de Pintura (1982, Exposição Nacional de Arte Moderna Arus), Grande Prémio de Pintura da IV Bienal Internacional de Arte de Vila Nova de Cerveira (1984), Prémio BANIF de Pintura (1993).
Em 2021, na gala anual do Prémio Autores, organizada pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e pela RTP, ganha o prémio de melhor exposição de Artes Plásticas com Exposição de “Fora de Escala” com obras inéditas, que revelaram uma vertente importante e desconhecida do trabalho escultórico pensado pelo artista nas décadas de 60 e 70.
Atualmente vive e trabalha entre Lisboa e Faro.»
Os nossos sentidos pêsames à artista plástica Maria José Oliveira, sua companheira de uma vida, bem como à restante família e amigos.
8 abril 2023