Em destaque
Classificação do Castelo de Salir em consulta pública
25/10/2024
Na sequência de proposta da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, I.P. e do Município de Loulé, encontra-se em consulta pública o procedimento de classificação do Castelo de Salir, em Loulé, como monumento de interesse público (MIP).
Com este procedimento, pretende a Câmara Municipal de Loulé que o Castelo de Salir, obtenha o grau de interesse público «com o objetivo final da apropriação pública deste bem patrimonial e a potenciação dos seus valores culturais e identitários, atendendo a que constitui um testemunho do património arquitetónico medieval islâmico e medieval cristão, na categoria de arquitetura defensiva.»
Segundo a Unidade de Cultura da CCDR Algarve, a edificação representa um valor cultural e histórico de grande significado no território nacional, pertencendo a um património medieval islâmico e medieval cristão na categoria de arquitetura defensiva do Algarve, conquistado por D. Paio Peres Correia, mestre da Ordem de Santiago, depois da tomada da cidade de Tavira e outros castelos do litoral, entre 1248 e 1249, que ali acampou até à chegada do exército de D. Afonso III, e daí partiram para a conquista da cidade de Faro. Que foram realizados trabalhos de investigação arqueológica, desenvolvidos desde 1987, da responsabilidade científica da professora Helena Catarino, que confirmam a importância do local.
Neste contexto, a CCDR Algarve propôs este ano ao Património Cultural, I.P. a abertura de procedimento com vista à eventual Classificação como monumento de interesse público (MIP), de acordo com o previsto no n.º 5 do artigo 15.º da Lei n.º 107/2001 de 8 de setembro.
As ruínas do castelo localizam-se na zona poente da povoação, integradas na zona urbana da vila, sobre um cabeço calcário com 256 metros de altura.
O Castelo de Salir é uma fortificação de origem islâmica, com origem provavelmente no século XII e terá feito parte das fortificações que foram reconstruídas na época almóada para a defesa de Loulé e para proteger as povoações da região rural.
A conquista do castelo terá ocorrido entre os anos de 1248/49, quando o exército da Ordem de Santiago conquistou a região. Segundo a historiografia antiga, foi neste lugar que D. Paio Peres Correia esperou por D. Afonso III, vindo do reino de Portugal para sul, pela serra algarvia, e entrando no Algarve por este local, como relatado na Coreografia do Reino do Algarve de Frei João de São José.
Os trabalhos de investigação arqueológica realizados revelaram uma malha urbana bastante densa, tendo sido identificadas estruturas pertencentes a seis casas e dois arruamentos.
Estas casas terão funcionado durante os séculos XII e XIII, tendo sido abandonadas após a conquista cristã. O processo de conquista deste castelo foi bastante duro para a sua população, uma vez que os vestígios encontrados nas escavações arqueológicas mostram níveis de destruição violentos e incêndios de grandes dimensões (Catarino, 1997).
Atualmente, na área musealizada, podem ver-se as ruínas das casas identificadas durante as escavações arqueológicas, com silos escavados na rocha, arruamentos e canalizações bem como um estreito passadiço ou adarve entre a muralha e algumas das habitações. Apesar da fortificação se encontrar muito destruída pode ainda ver-se um troço de muralha na área escavada e quatro torres, algumas camufladas por entre o casario atual de Salir.
Com o propósito de valorizar as ruínas foi inaugurado em 2002 o Pólo Museológico de Salir onde se encontram expostos materiais recolhidos durante os trabalhos de escavação arqueológica.
O anúncio do procedimento foi publicado pelo Património Cultural, I.P, no dia 18 de outubro de 2024, o período de audiência de interessados decorre até 11 de novembro e os elementos relevantes podem ser consultados AQUI.
Sublinhe-se que a Unidade de Cultura da CCDR Algarve atua nas áreas da salvaguarda do património cultural, dos estudos, projetos e obras, da programação e promoção cultural e do incentivo à leitura e ao acesso à informação.
Com este procedimento, pretende a Câmara Municipal de Loulé que o Castelo de Salir, obtenha o grau de interesse público «com o objetivo final da apropriação pública deste bem patrimonial e a potenciação dos seus valores culturais e identitários, atendendo a que constitui um testemunho do património arquitetónico medieval islâmico e medieval cristão, na categoria de arquitetura defensiva.»
Segundo a Unidade de Cultura da CCDR Algarve, a edificação representa um valor cultural e histórico de grande significado no território nacional, pertencendo a um património medieval islâmico e medieval cristão na categoria de arquitetura defensiva do Algarve, conquistado por D. Paio Peres Correia, mestre da Ordem de Santiago, depois da tomada da cidade de Tavira e outros castelos do litoral, entre 1248 e 1249, que ali acampou até à chegada do exército de D. Afonso III, e daí partiram para a conquista da cidade de Faro. Que foram realizados trabalhos de investigação arqueológica, desenvolvidos desde 1987, da responsabilidade científica da professora Helena Catarino, que confirmam a importância do local.
Neste contexto, a CCDR Algarve propôs este ano ao Património Cultural, I.P. a abertura de procedimento com vista à eventual Classificação como monumento de interesse público (MIP), de acordo com o previsto no n.º 5 do artigo 15.º da Lei n.º 107/2001 de 8 de setembro.
As ruínas do castelo localizam-se na zona poente da povoação, integradas na zona urbana da vila, sobre um cabeço calcário com 256 metros de altura.
O Castelo de Salir é uma fortificação de origem islâmica, com origem provavelmente no século XII e terá feito parte das fortificações que foram reconstruídas na época almóada para a defesa de Loulé e para proteger as povoações da região rural.
A conquista do castelo terá ocorrido entre os anos de 1248/49, quando o exército da Ordem de Santiago conquistou a região. Segundo a historiografia antiga, foi neste lugar que D. Paio Peres Correia esperou por D. Afonso III, vindo do reino de Portugal para sul, pela serra algarvia, e entrando no Algarve por este local, como relatado na Coreografia do Reino do Algarve de Frei João de São José.
Os trabalhos de investigação arqueológica realizados revelaram uma malha urbana bastante densa, tendo sido identificadas estruturas pertencentes a seis casas e dois arruamentos.
Estas casas terão funcionado durante os séculos XII e XIII, tendo sido abandonadas após a conquista cristã. O processo de conquista deste castelo foi bastante duro para a sua população, uma vez que os vestígios encontrados nas escavações arqueológicas mostram níveis de destruição violentos e incêndios de grandes dimensões (Catarino, 1997).
Atualmente, na área musealizada, podem ver-se as ruínas das casas identificadas durante as escavações arqueológicas, com silos escavados na rocha, arruamentos e canalizações bem como um estreito passadiço ou adarve entre a muralha e algumas das habitações. Apesar da fortificação se encontrar muito destruída pode ainda ver-se um troço de muralha na área escavada e quatro torres, algumas camufladas por entre o casario atual de Salir.
Com o propósito de valorizar as ruínas foi inaugurado em 2002 o Pólo Museológico de Salir onde se encontram expostos materiais recolhidos durante os trabalhos de escavação arqueológica.
O anúncio do procedimento foi publicado pelo Património Cultural, I.P, no dia 18 de outubro de 2024, o período de audiência de interessados decorre até 11 de novembro e os elementos relevantes podem ser consultados AQUI.
Sublinhe-se que a Unidade de Cultura da CCDR Algarve atua nas áreas da salvaguarda do património cultural, dos estudos, projetos e obras, da programação e promoção cultural e do incentivo à leitura e ao acesso à informação.
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Abertura de Procedimentos de Classificação - Audiência de Interessados
23/10/2024
No âmbito dos procedimentos de classificação e ao abrigo do art.º13.º do Decreto-Lei n.º 309/2009, de 23/10 conjugado com o n.º 3 do art.º 191.º e art.º 87.º do Código do Procedimento Administrativo, encontra-se a decorrer o prazo de 15 dias úteis para apresentação de reclamação, dos seguintes procedimentos:
Anúncio n.º 262/2024
Classificação do Castelo de Salir, em Salir, freguesia de Salir, concelho de Loulé - até 11 de novembro
Anúncio n.º 254/2024
Classificação do Algarão do Remexido, na margem esquerda do ribeiro Meirinho, sítio do Barranco, concelho de Silves - até 29 de outubro
Anúncio n.º 253/2024
Classificação das Grutas de Ibn Ammar, na margem esquerda do rio Arade, concelho de Lagoa - até 29 de outubro
Para mais informação, consultar a página do Património Cultural, I.P.
Anúncio n.º 262/2024
Classificação do Castelo de Salir, em Salir, freguesia de Salir, concelho de Loulé - até 11 de novembro
Anúncio n.º 254/2024
Classificação do Algarão do Remexido, na margem esquerda do ribeiro Meirinho, sítio do Barranco, concelho de Silves - até 29 de outubro
Anúncio n.º 253/2024
Classificação das Grutas de Ibn Ammar, na margem esquerda do rio Arade, concelho de Lagoa - até 29 de outubro
Para mais informação, consultar a página do Património Cultural, I.P.
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Unidade de Cultura da CCDR Algarve presente na VI Congresso Internacional de Castellogia - Fortificaciones de Frontera
18/10/2024
A Unidade de Cultura da CCDR Algarve esteve presente no VI Congresso Internacional de Castellogia - Fortificaciones de Frontera, que teve lugar de 9 a 11 de outubro, em Aracena (Huelva).
Esta iniciativa, realizada no âmbito do programa de cooperação transfronteiriça FOURTOURS financiado pelo INTERREG España – Portugal, foi uma organização dos municípios locais, da Universidade de Huelva, da Associação Espanhola dos Amigos dos Castelos e da Junta da Andaluzia.
O congresso contou com comunicações e palestras sobre a investigação, conservação e valorização do património histórico militar e incluiu visitas aos castelos intervencionados no âmbito das várias edições daquele programa europeu.
A Unidade de Cultura da CCDR Algarve em colaboração com a CEAACP/UALG apresentou a comunicação “As Torres de Vigia do Algarve. Estudo, proteção e valorização” da autoria de Cristina Tété Garcia, Paula Melo Vieira e Miguel Pessoa.
Esta iniciativa, realizada no âmbito do programa de cooperação transfronteiriça FOURTOURS financiado pelo INTERREG España – Portugal, foi uma organização dos municípios locais, da Universidade de Huelva, da Associação Espanhola dos Amigos dos Castelos e da Junta da Andaluzia.
O congresso contou com comunicações e palestras sobre a investigação, conservação e valorização do património histórico militar e incluiu visitas aos castelos intervencionados no âmbito das várias edições daquele programa europeu.
A Unidade de Cultura da CCDR Algarve em colaboração com a CEAACP/UALG apresentou a comunicação “As Torres de Vigia do Algarve. Estudo, proteção e valorização” da autoria de Cristina Tété Garcia, Paula Melo Vieira e Miguel Pessoa.
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Classificação das Grutas de Ibn Ammar e do Algarão do Remexido em consulta pública
15/10/2024
Na sequência de propostas da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, I.P., estão em consulta pública os procedimentos de classificação das Grutas de Ibn Ammar, em Lagoa, e o Algarão do Remexido, em Silves, ambas consideradas de relevante natural e cultural.
A abertura dos dois procedimentos foi efetuada pelo Património Cultural, I.P, em 4 de setembro de 2024, na sequência de proposta dos serviços regionais de cultura da ex-Direção Regional de Cultura do Algarve, atualmente Unidade de Cultura da CCDR ALGARVE, efetuada em 2022, considerando o relevante interesse natural e cultural, nomeadamente as Grutas de Ibn Ammar e o Algarão do Remexido.
As Grutas de Ibn Ammar situam-se entre Tapadinha e Vale Crevo, Mexilhoeira da Carregação, na União das Freguesias de Estômbar e Parchal, concelho de Lagoa. Trata-se de uma série de aberturas cársicas conspícuas, dispostas ao longo da margem esquerda do rio Arade, que fazem parte de um complexo sistema de galerias subterrâneas naturais com utilização humana pré-histórica e histórica.
O processo de classificação das Grutas de Ibn Ammar baseia-se igualmente nos valores histórico arqueológico, científico, paleontológico e etnográfico associados, bem como aos fatores de antiguidade, memória, autenticidade, singularidade e exemplaridade.
Estas grutas, também conhecidas como Cavernas da Mexilhoeirinha, são as maiores a sul do Tejo. Esta foi a primeira designação de que há registo, em alusão à povoação mais próxima. Mas a partir da década de 70 do século XX, a esmagadora maioria dos autores refere-se a estas cavidades como Grutas de Ibn Ammar, designação que parece emergir dos anos 60, aquando das primeiras tentativas de as constituir como atração turística. Abû Bacr Muhammad Ibn Ammâr (1031-1084) foi poeta e político árabe que chegou a governador de Silves.
Por baixo do Algarve que conhecemos, existem dois conjuntos de galerias, a 120 metros de distância um do outro, sem ligação conhecida que permita a progressão humana de um para o outro, com um lago subterrâneo, nascentes e estreitas passagens labirínticas.
Apesar destas grutas terem atraído primeiro a atenção dos arqueológos, com estudos desde a década de 60 (séc. XX), algumas das primeiras pesquisas concretas a que se acedeu foram realizadas por biólogos. Esta é uma das principais cavidades do sistema subterrâneo do Algarve, que foi classificado em 2016 como hotspot mundial de biodiversidade cavernícola na “Science”, uma das mais importantes revistas científicas. Com elevado interesse para a área científica, estes ecossistemas subterrâneos são extremamente importantes em matéria de saúde pública, nomeadamente no que respeita à água disponível para consumo humano: em Portugal, cerca de 50% da água disponível para consumo humano provém de aquíferos de profundidade.
Estas grutas não são passíveis de visita pública por albergarem uma importante e frágil colónia de morcegos de espécies legalmente protegidas, e por motivos de segurança.
O Algarão do Remexido, situado na freguesia de São Bartolomeu de Messines, concelho de Silves, é igualmente uma gruta natural cársica, com interesse arqueológico e à qual se associa a memória popular de que terá constituído o local de refúgio prolongado do famoso guerrilheiro miguelista, cognominado o Remexido.
Trata-se de algar cársico com diferentes momentos de utilização antrópica. A ocorrência de vestígios líticos atribuídos ao Neolítico-Calcolítico, junto à entrada da gruta, e principalmente a presença atestada de cerâmicas manuais de grandes contentores, no seu interior, provavelmente na Idade do Bronze, testemunham a utilização pré-histórica da cavidade.
Outro uso mais recente envolveu alteração significativa do espaço na primeira sala, através da remobilização massiva de pedras e grandes blocos. Esta evidente intervenção humana harmoniza-se com a memória popular de que o local serviu de refúgio prolongado do famoso guerrilheiro miguelista José Joaquim de Sousa Reis, cognominado o Remexido. Segundo a recolha documental e histórica de José Vilhena MESQUITA (2009: 179-180), o guerrilheiro teria permanecido escondido nas imediações da aldeia, numa fase de prostração e desânimo. Tal situação ter-se-ia agravado quando seus familiares diretos sofreram graves consequências do conflito, apesar da amnistia político-militar então decretada pelo governo.
Seu filho Manuel da Graça Reis foi detido e encarcerado no presídio de Silves, e Maria Clara Machado de Basto, sua esposa, foi submetida a punição pública no adro da Igreja de Messines, com rapagem do cabelo e suplício de palmatoadas. Apreciando a informação histórica e tendo em conta as observações realizadas no interior da gruta, não é despicienda a hipótese de ter, na realidade, ocorrido uma relação do sítio com os acontecimentos históricos em causa, o que poderá vir a ser melhor esclarecido mediante pesquisas mais aprofundadas.
Note-se que os acontecimentos em referência, em contexto das Guerras Liberais, dizem respeito a importante convulsão sociocultural e política de Portugal, ultrapassando largamente a relevância regional, com repercussões na evolução histórica da Nação e dos portugueses. A contenda entre liberais constitucionalistas e absolutistas nos anos trinta do século XIX, relacionada com a sucessão ao trono português, envolveram o partido constitucionalista progressista liderado pela rainha D. Maria II de Portugal, com o apoio de seu pai, D. Pedro IV, e o partido absolutista de D. Miguel. De notar que o Reino Unido, a França, a Espanha e a Igreja Católica tiveram também, embora de forma indireta, envolvimento no conflito. Conforme corroborou o insigne historiador José Vilhena Mesquita (2009), há de facto uma memória popular sobre os marcantes acontecimentos então ocorridos ancorada na existência perene da gruta. Esta particularidade cultural é significativa, radicada nas convicções identitárias do povo e da sua ancestral ligação ao território, sendo meritória de salvaguarda através da classificação e valorização do imóvel, independentemente de, no presente, não estar cabalmente demonstrada a total veracidade dessa memória de natureza vernácula.
Estas grutas não são passíveis de visita pública por motivos de segurança e de salvaguarda da sensível biodiversidade cavernícola.
Os elementos relevantes destes processos de candidaturas podem ser consultados Património Cultural, I. P.
Sublinhe-se que a Unidade de Cultura da CCDR Algarve atua nas áreas da salvaguarda do património cultural, dos estudos, projetos e obras, da programação e promoção cultural e do incentivo à leitura e ao acesso à informação.
A abertura dos dois procedimentos foi efetuada pelo Património Cultural, I.P, em 4 de setembro de 2024, na sequência de proposta dos serviços regionais de cultura da ex-Direção Regional de Cultura do Algarve, atualmente Unidade de Cultura da CCDR ALGARVE, efetuada em 2022, considerando o relevante interesse natural e cultural, nomeadamente as Grutas de Ibn Ammar e o Algarão do Remexido.
As Grutas de Ibn Ammar situam-se entre Tapadinha e Vale Crevo, Mexilhoeira da Carregação, na União das Freguesias de Estômbar e Parchal, concelho de Lagoa. Trata-se de uma série de aberturas cársicas conspícuas, dispostas ao longo da margem esquerda do rio Arade, que fazem parte de um complexo sistema de galerias subterrâneas naturais com utilização humana pré-histórica e histórica.
O processo de classificação das Grutas de Ibn Ammar baseia-se igualmente nos valores histórico arqueológico, científico, paleontológico e etnográfico associados, bem como aos fatores de antiguidade, memória, autenticidade, singularidade e exemplaridade.
Estas grutas, também conhecidas como Cavernas da Mexilhoeirinha, são as maiores a sul do Tejo. Esta foi a primeira designação de que há registo, em alusão à povoação mais próxima. Mas a partir da década de 70 do século XX, a esmagadora maioria dos autores refere-se a estas cavidades como Grutas de Ibn Ammar, designação que parece emergir dos anos 60, aquando das primeiras tentativas de as constituir como atração turística. Abû Bacr Muhammad Ibn Ammâr (1031-1084) foi poeta e político árabe que chegou a governador de Silves.
Por baixo do Algarve que conhecemos, existem dois conjuntos de galerias, a 120 metros de distância um do outro, sem ligação conhecida que permita a progressão humana de um para o outro, com um lago subterrâneo, nascentes e estreitas passagens labirínticas.
Apesar destas grutas terem atraído primeiro a atenção dos arqueológos, com estudos desde a década de 60 (séc. XX), algumas das primeiras pesquisas concretas a que se acedeu foram realizadas por biólogos. Esta é uma das principais cavidades do sistema subterrâneo do Algarve, que foi classificado em 2016 como hotspot mundial de biodiversidade cavernícola na “Science”, uma das mais importantes revistas científicas. Com elevado interesse para a área científica, estes ecossistemas subterrâneos são extremamente importantes em matéria de saúde pública, nomeadamente no que respeita à água disponível para consumo humano: em Portugal, cerca de 50% da água disponível para consumo humano provém de aquíferos de profundidade.
Estas grutas não são passíveis de visita pública por albergarem uma importante e frágil colónia de morcegos de espécies legalmente protegidas, e por motivos de segurança.
O Algarão do Remexido, situado na freguesia de São Bartolomeu de Messines, concelho de Silves, é igualmente uma gruta natural cársica, com interesse arqueológico e à qual se associa a memória popular de que terá constituído o local de refúgio prolongado do famoso guerrilheiro miguelista, cognominado o Remexido.
Trata-se de algar cársico com diferentes momentos de utilização antrópica. A ocorrência de vestígios líticos atribuídos ao Neolítico-Calcolítico, junto à entrada da gruta, e principalmente a presença atestada de cerâmicas manuais de grandes contentores, no seu interior, provavelmente na Idade do Bronze, testemunham a utilização pré-histórica da cavidade.
Outro uso mais recente envolveu alteração significativa do espaço na primeira sala, através da remobilização massiva de pedras e grandes blocos. Esta evidente intervenção humana harmoniza-se com a memória popular de que o local serviu de refúgio prolongado do famoso guerrilheiro miguelista José Joaquim de Sousa Reis, cognominado o Remexido. Segundo a recolha documental e histórica de José Vilhena MESQUITA (2009: 179-180), o guerrilheiro teria permanecido escondido nas imediações da aldeia, numa fase de prostração e desânimo. Tal situação ter-se-ia agravado quando seus familiares diretos sofreram graves consequências do conflito, apesar da amnistia político-militar então decretada pelo governo.
Seu filho Manuel da Graça Reis foi detido e encarcerado no presídio de Silves, e Maria Clara Machado de Basto, sua esposa, foi submetida a punição pública no adro da Igreja de Messines, com rapagem do cabelo e suplício de palmatoadas. Apreciando a informação histórica e tendo em conta as observações realizadas no interior da gruta, não é despicienda a hipótese de ter, na realidade, ocorrido uma relação do sítio com os acontecimentos históricos em causa, o que poderá vir a ser melhor esclarecido mediante pesquisas mais aprofundadas.
Note-se que os acontecimentos em referência, em contexto das Guerras Liberais, dizem respeito a importante convulsão sociocultural e política de Portugal, ultrapassando largamente a relevância regional, com repercussões na evolução histórica da Nação e dos portugueses. A contenda entre liberais constitucionalistas e absolutistas nos anos trinta do século XIX, relacionada com a sucessão ao trono português, envolveram o partido constitucionalista progressista liderado pela rainha D. Maria II de Portugal, com o apoio de seu pai, D. Pedro IV, e o partido absolutista de D. Miguel. De notar que o Reino Unido, a França, a Espanha e a Igreja Católica tiveram também, embora de forma indireta, envolvimento no conflito. Conforme corroborou o insigne historiador José Vilhena Mesquita (2009), há de facto uma memória popular sobre os marcantes acontecimentos então ocorridos ancorada na existência perene da gruta. Esta particularidade cultural é significativa, radicada nas convicções identitárias do povo e da sua ancestral ligação ao território, sendo meritória de salvaguarda através da classificação e valorização do imóvel, independentemente de, no presente, não estar cabalmente demonstrada a total veracidade dessa memória de natureza vernácula.
Estas grutas não são passíveis de visita pública por motivos de segurança e de salvaguarda da sensível biodiversidade cavernícola.
Os elementos relevantes destes processos de candidaturas podem ser consultados Património Cultural, I. P.
Sublinhe-se que a Unidade de Cultura da CCDR Algarve atua nas áreas da salvaguarda do património cultural, dos estudos, projetos e obras, da programação e promoção cultural e do incentivo à leitura e ao acesso à informação.
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Centenário de António Ramos Rosa celebrado em Faro
14/10/2024
ANTÓNIO RAMOS ROSA nasceu em Faro a 17 de outubro de 1924, onde frequentou os estudos secundários, mas cedo rumou a Lisboa, onde trabalhou como empregado de escritório, tradutor e professor, e viveu intensamente a vitória dos Aliados, aquando do término da II Guerra Mundial.
Desenvolvendo uma importante atividade nos domínios da teorização e da criação poética, o nome de António Ramos Rosa surge ligado a publicações literárias dos anos 50, sendo cofundador da revista Árvore (1951-1953) e tendo participado na Cassiopeia ou nos Cadernos do Meio-Dia, que primaram não só por uma postura de isenção relativamente aos diversos feixes estéticos que atravessam aquela década (legado surrealista e evolução da poesia neorrealista, entre outros), como por um critério de respeito pela qualidade estética dos trabalhos literários publicados. Complementarmente, colaborava com textos de crítica literária na Seara Nova e no Colóquio Letras, entre outras publicações periódicas.
É no primeiro número da Árvore, onde garante a participação dos poetas António Luís Moita, José Terra, Luís Amaro e Raul de Carvalho, que subscreve o texto "A Necessidade da Poesia", apontando como princípios imperativos da publicação a liberdade e a isenção ("Não pode haver razões de ordem social que limitem a altitude ou a profundidade dum universo poético, que se oponham à liberdade de pesquisa e apropriação dum conteúdo cuja complexidade exige novas formas, o ir-até-ao-fim das possibilidades criadoras e expressivas."), postergando apenas da aventura poética a "gratuitidade como intenção", posto que a poesia decorre de uma "superior necessidade [...] tanto no plano da criação como no da demanda social" (ibi., p. 4).
Como poeta, estreia-se em 1958 no jornal «A Voz de Loulé» com o poema "Os dias, sem matéria" e na coletânea “O Grito Claro”, n.º 1 da coleção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta Casimiro de Brito. Seria apenas o primeiro de uma obra poética que ultrapassa os cinquenta títulos. É ainda autor de ensaios, entre os quais se salienta A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979-1980). Estava assim lançado o movimento da moderna poesia portuguesa onde o autor circulava.
Ramos Rosa foi distinguido com numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988, o Prémio Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT - Correios de Portugal em 1989, pela recolha “Acordes”, e em 2006, pelas obras “Génese” e “Constelações”, que estão igualmente na base da atribuição do Prémio Luís Miguel Nava, no mesmo ano; em 1990, o Grande Prémio Internacional de Poesia, no âmbito dos Encontros Internacionais de Poesia de Liège; em 1992, o Prémio Jean Malrieu, para o melhor livro de poesia traduzido em França, e o Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Poesia), pela obra “As armas imprecisas”; e, em 2005, o Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen (Prémio de Poesia), São João da Madeira, pela obra “O poeta na rua. Antologia portátil”.
A 10 de Junho de 1992 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 9 de Junho de 1997 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Em 2001, o seu nome foi dado à Biblioteca Municipal de Faro. Em 2003, a Universidade do Algarve, atribui-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.
Considerado um dos grandes poetas portugueses da atualidade, a sua atitude crítica perante a sua própria palavra, fez dele um dos mais esclarecidos críticos portugueses contemporâneos.
Faleceu a 23 de setembro de 2013, em Lisboa, tendo doado todo o seu espólio literário à Biblioteca Nacional de Portugal. A sua memória encontra perpetuada no blogue dinamizado por João Silva, com a colaboração de Gisela Ramos Rosa, no qual é mantida uma antologia e recolha fotográfica / gráfica do autor.
Por iniciativa do Município de Faro e da associação A Tal Emersa, o seu centenário será celebrado ao longo de dois dias com um programa especial que incluiu a exposição “António Ramos Rosa e a Interrogação do Real”, com inauguração prevista para as 17h30 do dia 16 de outubro, e uma jornada de trabalho com conferências, mesas-redondas e recital de poesia, a partir das 9 horas do dia 17 de outubro, sempre na Biblioteca Municipal de Faro António Ramos Rosa.
No âmbito da sua Missão e das atribuições no domínio da Cultura, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, I.P. congratula-se com esta iniciativa meritória, que evoca a memória de um dos mais distintos algarvios e a obra de um nome maior da Poesia do Século XX.
Desenvolvendo uma importante atividade nos domínios da teorização e da criação poética, o nome de António Ramos Rosa surge ligado a publicações literárias dos anos 50, sendo cofundador da revista Árvore (1951-1953) e tendo participado na Cassiopeia ou nos Cadernos do Meio-Dia, que primaram não só por uma postura de isenção relativamente aos diversos feixes estéticos que atravessam aquela década (legado surrealista e evolução da poesia neorrealista, entre outros), como por um critério de respeito pela qualidade estética dos trabalhos literários publicados. Complementarmente, colaborava com textos de crítica literária na Seara Nova e no Colóquio Letras, entre outras publicações periódicas.
É no primeiro número da Árvore, onde garante a participação dos poetas António Luís Moita, José Terra, Luís Amaro e Raul de Carvalho, que subscreve o texto "A Necessidade da Poesia", apontando como princípios imperativos da publicação a liberdade e a isenção ("Não pode haver razões de ordem social que limitem a altitude ou a profundidade dum universo poético, que se oponham à liberdade de pesquisa e apropriação dum conteúdo cuja complexidade exige novas formas, o ir-até-ao-fim das possibilidades criadoras e expressivas."), postergando apenas da aventura poética a "gratuitidade como intenção", posto que a poesia decorre de uma "superior necessidade [...] tanto no plano da criação como no da demanda social" (ibi., p. 4).
Como poeta, estreia-se em 1958 no jornal «A Voz de Loulé» com o poema "Os dias, sem matéria" e na coletânea “O Grito Claro”, n.º 1 da coleção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta Casimiro de Brito. Seria apenas o primeiro de uma obra poética que ultrapassa os cinquenta títulos. É ainda autor de ensaios, entre os quais se salienta A Poesia Moderna e a Interrogação do Real (1979-1980). Estava assim lançado o movimento da moderna poesia portuguesa onde o autor circulava.
Ramos Rosa foi distinguido com numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988, o Prémio Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT - Correios de Portugal em 1989, pela recolha “Acordes”, e em 2006, pelas obras “Génese” e “Constelações”, que estão igualmente na base da atribuição do Prémio Luís Miguel Nava, no mesmo ano; em 1990, o Grande Prémio Internacional de Poesia, no âmbito dos Encontros Internacionais de Poesia de Liège; em 1992, o Prémio Jean Malrieu, para o melhor livro de poesia traduzido em França, e o Prémio Municipal Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa (Prémio de Poesia), pela obra “As armas imprecisas”; e, em 2005, o Grande Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen (Prémio de Poesia), São João da Madeira, pela obra “O poeta na rua. Antologia portátil”.
A 10 de Junho de 1992 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e a 9 de Junho de 1997 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Em 2001, o seu nome foi dado à Biblioteca Municipal de Faro. Em 2003, a Universidade do Algarve, atribui-lhe o grau de Doutor Honoris Causa.
Considerado um dos grandes poetas portugueses da atualidade, a sua atitude crítica perante a sua própria palavra, fez dele um dos mais esclarecidos críticos portugueses contemporâneos.
Faleceu a 23 de setembro de 2013, em Lisboa, tendo doado todo o seu espólio literário à Biblioteca Nacional de Portugal. A sua memória encontra perpetuada no blogue dinamizado por João Silva, com a colaboração de Gisela Ramos Rosa, no qual é mantida uma antologia e recolha fotográfica / gráfica do autor.
Por iniciativa do Município de Faro e da associação A Tal Emersa, o seu centenário será celebrado ao longo de dois dias com um programa especial que incluiu a exposição “António Ramos Rosa e a Interrogação do Real”, com inauguração prevista para as 17h30 do dia 16 de outubro, e uma jornada de trabalho com conferências, mesas-redondas e recital de poesia, a partir das 9 horas do dia 17 de outubro, sempre na Biblioteca Municipal de Faro António Ramos Rosa.
No âmbito da sua Missão e das atribuições no domínio da Cultura, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, I.P. congratula-se com esta iniciativa meritória, que evoca a memória de um dos mais distintos algarvios e a obra de um nome maior da Poesia do Século XX.
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